segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Destino maldito, tormenta de crueldade. Meandro de caprichos que arrancas das minha alma a carne que era minha, deixando-me vazia. Cilício infame, senda de castigo. Leva-me contigo para te dar o meu ódio. Vem e abraça-me." Fechei os olhos e chorei. Chorei desmedidamente até que as lágrimas me fizeram arder o rosto. A culpa era minha, daquela estúpida mania de fazer o que não deve ser feito.
Acordei a tiritar, com corpo dormente e uma forte dor de cabeça. Ao levantar-me, as pernas fraquejaram-me como se tivesse andado durante toda a noite. O frio comprimia-me o peito e a garganta era um monte de espinhos. Quando consegui levantar-me, abri a porta e verifiquei que já era dia. O local estava deserto mas mesmo assim observei-o com atenção. O bosque de castanheiros pareceu-me um jardim
cuidado e, por um instante, deixei-me levar pelo perfume da terra húmida e o suave sussurro do vento. Reflecti um bom bocado até tomar uma decisão: fugiria para bem longe, para um lugar onde ninguém pudesse encontrar-me. Talvez para sul ou talvez para norte. Ali, estudaria gramática e poesia e talvez um dia, então, me atrevesse a regressar.
A meio da manhã, deixei cair a sacola, estafada. Durante
cinco milhas, caminhara pela vereda, porém o caminho fora engolido pela neve nos primeiros pontos de apoio. Até onde a vista abarcava, a neve branqueava desde a mais íntima pedra até à última das colinas, ocultando qualquer vestígio que pudesse servir-me de guia. Cada árvore era repetição da anterior e cada penhasco o reflexo do seguinte.
Desesperada, deixei-me cair no chão. Depois de muitas horas sentada, mentalizei-me que tinha de continuar o meu caminho para conseguir sobreviver.